As mães passam por alguns lutos ao longo da vida. E isso pode ser bastante duro para algumas. Aos poucos precisam se acostumar com o fato de que o filho (ou a filha) não faz parte delas – desmamam. Depois precisam se acostumar com a ideia de que ele não estará o tempo todo com elas – seja porque estas vão trabalhar, seja porque o pequeno vai para a escola, fica na casa de amigos, faz viagens com a turma. Mais tarde as mães têm de lidar com as peculiaridades do rebento, com suas características estranhas, com suas escolhas alheias à vontade delas, com as ausências cada vez mais incertas, mais longas. Têm de lidar com a ideia de que haverá outras mulheres ou outros homens a quem a cria amará de forma intensa e que a levarão para longe, de vez.
Esse processo todo varia, claro, de mãe para mãe, de filho para filho, de história pessoal para história pessoal, e, raramente, ocorre de forma linear ou sem tropeços. Mas será muito mais duro para aquelas mães que se agarrarem à ideia de que o filho veio para preencher, de maneira (quase) plena, a falta primordial que têm.
E noto, seja na minha prática clínica psicanalítica, seja no contato com pessoas conhecidas, que, se o filho tem alguma condição psíquica/ neurológica especial, que demande maiores cuidados em determinado momento da vida, isso tende a ser ainda mais dramático e as mães tendem a se agarrar, imaginariamente, à fantasia de que precisam cuidar demais, mesmo quando, ao contrário, precisariam, cada vez mais, desenvolver a autonomia do menino (ou da menina, a depender do caso). Fazem isso, muitas vezes, para não ter de se haver (novamente) com sua solidão mais íntima, com aquilo que lhes falta (e sempre faltará, em alguma medida), com certo vazio existencial.
É preciso que cada mãe, então, consiga entrar em contato novamente com essa solidão, com essa falta primordial (e ver outras possibilidades de lidar com ela); é preciso que viva os lutos necessários a cada período do desenvolvimento do filho para que, num gesto de amor, pelo bem dele, permita que ele cresça, tenha suas próprias alegrias, lide com suas frustrações, sofra, regozije-se, siga seu próprio caminho, separe-se dela. O contrário disso pode ser uma existência de consequências e de sofrimentos realmente atrozes para ambos.
Nisso residem a beleza e a dor da maternidade.
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